The Prague Post - Menores transgênero e o desafio de crescer no Brasil, país que mais mata trans

EUR -
AED 4.229014
AFN 77.19462
ALL 96.892192
AMD 442.602341
ANG 2.061229
AOA 1055.959098
ARS 1665.395174
AUD 1.757373
AWG 2.072766
AZN 1.958079
BAM 1.956669
BBD 2.330735
BDT 141.411578
BGN 1.95524
BHD 0.434195
BIF 3395.822948
BMD 1.151536
BND 1.505288
BOB 7.996968
BRL 6.215759
BSD 1.157204
BTN 102.589564
BWP 15.540307
BYN 3.944418
BYR 22570.114175
BZD 2.327434
CAD 1.615462
CDF 2940.453636
CHF 0.928824
CLF 0.027832
CLP 1091.839665
CNY 8.195942
CNH 8.204651
COP 4469.943484
CRC 580.370363
CUC 1.151536
CUP 30.515716
CVE 110.315432
CZK 24.340137
DJF 206.069733
DKK 7.467414
DOP 74.355607
DZD 150.518851
EGP 54.43324
ERN 17.273047
ETB 178.283986
FJD 2.617212
FKP 0.875594
GBP 0.877448
GEL 3.126404
GGP 0.875594
GHS 12.613547
GIP 0.875594
GMD 83.490164
GNF 10044.853805
GTQ 8.871056
GYD 242.106477
HKD 8.95004
HNL 30.436989
HRK 7.53496
HTG 151.374461
HUF 387.519073
IDR 19206.476241
ILS 3.74349
IMP 0.875594
INR 102.234591
IQD 1515.973297
IRR 48450.895643
ISK 144.805409
JEP 0.875594
JMD 185.729263
JOD 0.816407
JPY 177.470768
KES 149.120729
KGS 100.701731
KHR 4640.121282
KMF 490.55396
KPW 1036.382206
KRW 1646.691411
KWD 0.353683
KYD 0.964328
KZT 612.736817
LAK 25018.894498
LBP 103685.449915
LKR 352.313415
LRD 212.064185
LSL 20.069239
LTL 3.400188
LVL 0.696553
LYD 6.312749
MAD 10.719019
MDL 19.701579
MGA 5197.240576
MKD 61.652382
MMK 2417.780872
MNT 4129.694002
MOP 9.263334
MRU 46.355387
MUR 52.912779
MVR 17.620845
MWK 2006.556332
MXN 21.344016
MYR 4.835315
MZN 73.574608
NAD 20.069239
NGN 1673.42476
NIO 42.5891
NOK 11.651084
NPR 164.14005
NZD 2.013013
OMR 0.442833
PAB 1.157414
PEN 3.914905
PGK 4.879231
PHP 67.764503
PKR 327.702682
PLN 4.253188
PYG 8186.564846
QAR 4.218128
RON 5.087138
RSD 117.221822
RUB 93.269582
RWF 1680.817317
SAR 4.319061
SBD 9.485634
SCR 17.110674
SDG 692.652142
SEK 10.938093
SGD 1.5007
SHP 0.863951
SLE 26.680652
SLL 24147.142784
SOS 661.382256
SRD 44.345097
STD 23834.479313
STN 24.511206
SVC 10.125497
SYP 12732.224011
SZL 20.065435
THB 37.347748
TJS 10.657934
TMT 4.030378
TND 3.417562
TOP 2.697018
TRY 48.434891
TTD 7.837413
TWD 35.548504
TZS 2846.714883
UAH 48.501109
UGX 4030.772705
USD 1.151536
UYU 46.161103
UZS 13892.049304
VES 255.029451
VND 30304.408657
VUV 140.016008
WST 3.223814
XAF 656.23706
XAG 0.023544
XAU 0.000286
XCD 3.112085
XCG 2.085626
XDR 0.816152
XOF 656.242761
XPF 119.331742
YER 274.644946
ZAR 19.907543
ZMK 10365.210591
ZMW 25.603371
ZWL 370.794263
Menores transgênero e o desafio de crescer no Brasil, país que mais mata trans
Menores transgênero e o desafio de crescer no Brasil, país que mais mata trans / foto: Nelson ALMEIDA - AFP

Menores transgênero e o desafio de crescer no Brasil, país que mais mata trans

"Mãe, eu posso morrer hoje para nascer menina amanhã?". Agatha tinha quase quatro anos quando disse a Thamirys Nunes que não queria ser menino.

Tamanho do texto:

Sua mãe, de 33 anos, soube então que teria pela frente um longo caminho de obstáculos no país com maior número de homicídios de pessoas trans no mundo e com poucos centros de assistência pública para menores inconformados com seu gênero de nascimento.

"Desde pequenininha, ela demonstrava um desconforto com o gênero masculino, atribuído no nascimento", queria brincar com bonecas e usar argolas, conta à AFP Thamirys, moradora de São Paulo.

"Os esforços para reforçar o masculino só ofendiam, magoavam. Por isso permitimos" que se identificasse socialmente como menina e mudasse de nome, acrescenta.

No Brasil, as cirurgias de mudança de sexo só são permitidas a partir dos 18 anos. É que a "incongruência ou disforia de gênero" entre menores é um tema delicado, que causa polêmica em muitos países por causa da tenra idade.

Hoje com oito anos, cabelos longos presos com prendedor rosa e vestido da mesma cor, Agatha aparece sorridente no fundo de tela do celular da mãe.

"Não era um sonho ter uma criança trans... Duvidei muito", admite Thamirys, que precisou enfrentar os próprios preconceitos, mas sobretudo, o medo do meio.

O Brasil é o país com mais mortes violentas de pessoas trans, com 118 em 2022 ou 29% do total mundial, segundo a Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil.

- "Contar com a sorte" -

A esta circunstância se soma uma progressão do conservadorismo no país durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), defensor da família tradicional, reafirmada pela ampla maioria de direita eleita no ano passado para o Congresso.

"Toda vez que a minha filha passa pela porta, fico insegura, tenho medo que digam que ela é uma aberração, que a agridam ou excluam. E fico muito grata toda vez que ela volta porque sei que isso é um privilégio", diz a mãe, com a voz embargada.

Transformada em ativista dos direitos de crianças e adolescentes trans, ela fundou em 2022 a ONG Minha Criança Trans, que tem quase 600 membros.

"É um absurdo o Estado não ter nenhum mecanismo de proteção para nossos filhos e tantas crianças e adolescentes trans que estão na nossa sociedade, sendo violados, vitimizados. Nosso maior interesse é ter políticas públicas porque hoje uma criança ou adolescente trans no Brasil tem que contar com a sorte", diz.

Para Aline Melo, membro da organização, o Brasil "viveu um período de muito retrocesso nos últimos anos".

"Meu filho, Luiz Guilherme, um adolescente trans de 14 anos, tem orgulho de ser quem é, mas sabe que da porta pra fora nem sempre pode" se expor livremente, lamenta.

- Uma nova identidade –

Celeste Armbrust lembra ter chegado ao salão com a cabeça coberta e o olhar baixo. Depois do trabalho do cabeleireiro, recorda que seus olhos se iluminaram ao ver no espelho os cabelos castanhos com mechas vermelhas.

"Finalmente me senti como eu mesma, livre de fato", conta à AFP a jovem transgênero de 17 anos em seu quarto, onde carrinhos e acessórios femininos convivem lado a lado.

Celeste iniciou a terapia hormonal aos 16 anos, idade autorizada por uma norma do Conselho Federal de Medicina em 2020 e revelou sua nova identidade na escola, motivando outros a fazerem o mesmo.

Mas, admite que lhe falta essa "coragem" para sair desacompanhada.

"Ela evita estar sozinha por medo de ser apontada e sofrer alguma coisa", diz a mãe dela, Claudia Armbrust.

- Expulsos de casa -

No Brasil, com 214 milhões de habitantes, há apenas cinco centros públicos de atendimento a crianças e adolescentes para questões de identidade e gênero.

O do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo acompanha quase 400, cerca de uma centena entre os 4 e os 12 anos, e tem uma longa fila de espera.

Em casos de "incongruência de gênero", as crianças são acompanhadas em sua "transição social"; aqueles na puberdade podem "bloquear" o processo, ou seja, frear as mudanças como a menstruação nas meninas e a penugem facial nos meninos; e alguns maiores de 16 anos recebem tratamentos hormonais.

Agatha e Luiz Guilherme frequentam o centro na capital paulista, como Celeste fez no passado.

Ali, "sentem-se compreendidos e acompanhados nessa descoberta", explica Larissa Todorov, psicóloga no ambulatório paulistano.

Mas poucos têm acesso a esta assistência, que conta com poucos recursos.

Carolina Iara, de 30 anos, deputada estadual intersexo em São Paulo (PSOL-SP), destaca, apesar de tudo, alguns avanços em relação à sua geração.

No entanto, "a gente ainda tem essa dificuldade do básico. Esses adolescentes trans, principalmente essas adolescentes trans e travestis, são expulsas de casa com 13 ou 14 anos e vão parar na prostituição", adverte.

S.Danek--TPP