The Prague Post - Menores transgênero e o desafio de crescer no Brasil, país que mais mata trans

EUR -
AED 4.152561
AFN 80.841189
ALL 97.685313
AMD 440.307215
ANG 2.037591
AOA 1034.459388
ARS 1358.941422
AUD 1.752462
AWG 2.037829
AZN 1.894792
BAM 1.9472
BBD 2.280528
BDT 137.2339
BGN 1.959267
BHD 0.426173
BIF 3312.531557
BMD 1.130557
BND 1.455771
BOB 7.821456
BRL 6.431287
BSD 1.129511
BTN 95.2782
BWP 15.336267
BYN 3.696375
BYR 22158.914168
BZD 2.26878
CAD 1.563735
CDF 3248.090153
CHF 0.930522
CLF 0.027688
CLP 1062.494009
CNY 8.220562
CNH 8.171444
COP 4857.720125
CRC 571.27693
CUC 1.130557
CUP 29.959756
CVE 110.737722
CZK 24.92652
DJF 200.9228
DKK 7.4625
DOP 66.420746
DZD 149.73189
EGP 57.280341
ERN 16.958353
ETB 148.137883
FJD 2.553306
FKP 0.851645
GBP 0.851032
GEL 3.098071
GGP 0.851645
GHS 15.5455
GIP 0.851645
GMD 80.836599
GNF 9785.534155
GTQ 8.698582
GYD 236.306343
HKD 8.762912
HNL 29.224731
HRK 7.534482
HTG 147.568258
HUF 403.524034
IDR 18634.007508
ILS 4.089705
IMP 0.851645
INR 95.410519
IQD 1481.029467
IRR 47610.57043
ISK 146.926855
JEP 0.851645
JMD 179.148781
JOD 0.801906
JPY 162.597766
KES 145.988283
KGS 98.867169
KHR 4528.997481
KMF 491.22389
KPW 1017.501161
KRW 1568.46653
KWD 0.346719
KYD 0.941243
KZT 584.229723
LAK 24431.098962
LBP 101203.131857
LKR 338.345681
LRD 225.902292
LSL 20.841821
LTL 3.33824
LVL 0.683863
LYD 6.166764
MAD 10.420278
MDL 19.450098
MGA 5036.630749
MKD 61.5166
MMK 2373.677134
MNT 4039.46856
MOP 9.016677
MRU 44.832231
MUR 51.338571
MVR 17.409009
MWK 1963.77764
MXN 22.283575
MYR 4.790736
MZN 72.29939
NAD 20.84181
NGN 1813.756172
NIO 41.5594
NOK 11.747995
NPR 152.444721
NZD 1.896637
OMR 0.435256
PAB 1.129511
PEN 4.14066
PGK 4.592313
PHP 62.982759
PKR 317.856435
PLN 4.267112
PYG 9028.126875
QAR 4.116325
RON 4.979199
RSD 117.241784
RUB 91.010311
RWF 1604.260163
SAR 4.240188
SBD 9.460892
SCR 16.073223
SDG 678.897186
SEK 10.939488
SGD 1.463704
SHP 0.88844
SLE 25.720126
SLL 23707.193409
SOS 646.108571
SRD 41.661013
STD 23400.244112
SVC 9.88335
SYP 14699.349375
SZL 20.841878
THB 37.249024
TJS 11.74682
TMT 3.956949
TND 3.389454
TOP 2.647877
TRY 43.644757
TTD 7.672116
TWD 34.190266
TZS 3036.676005
UAH 46.965276
UGX 4130.756331
USD 1.130557
UYU 47.400653
UZS 14629.405927
VES 100.180372
VND 29362.822386
VUV 136.901872
WST 3.141279
XAF 653.072675
XAG 0.034277
XAU 0.000337
XCD 3.055387
XDR 0.815877
XOF 651.200286
XPF 119.331742
YER 276.477922
ZAR 20.68036
ZMK 10176.366411
ZMW 31.145445
ZWL 364.038843
Menores transgênero e o desafio de crescer no Brasil, país que mais mata trans
Menores transgênero e o desafio de crescer no Brasil, país que mais mata trans / foto: Nelson ALMEIDA - AFP

Menores transgênero e o desafio de crescer no Brasil, país que mais mata trans

"Mãe, eu posso morrer hoje para nascer menina amanhã?". Agatha tinha quase quatro anos quando disse a Thamirys Nunes que não queria ser menino.

Tamanho do texto:

Sua mãe, de 33 anos, soube então que teria pela frente um longo caminho de obstáculos no país com maior número de homicídios de pessoas trans no mundo e com poucos centros de assistência pública para menores inconformados com seu gênero de nascimento.

"Desde pequenininha, ela demonstrava um desconforto com o gênero masculino, atribuído no nascimento", queria brincar com bonecas e usar argolas, conta à AFP Thamirys, moradora de São Paulo.

"Os esforços para reforçar o masculino só ofendiam, magoavam. Por isso permitimos" que se identificasse socialmente como menina e mudasse de nome, acrescenta.

No Brasil, as cirurgias de mudança de sexo só são permitidas a partir dos 18 anos. É que a "incongruência ou disforia de gênero" entre menores é um tema delicado, que causa polêmica em muitos países por causa da tenra idade.

Hoje com oito anos, cabelos longos presos com prendedor rosa e vestido da mesma cor, Agatha aparece sorridente no fundo de tela do celular da mãe.

"Não era um sonho ter uma criança trans... Duvidei muito", admite Thamirys, que precisou enfrentar os próprios preconceitos, mas sobretudo, o medo do meio.

O Brasil é o país com mais mortes violentas de pessoas trans, com 118 em 2022 ou 29% do total mundial, segundo a Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil.

- "Contar com a sorte" -

A esta circunstância se soma uma progressão do conservadorismo no país durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), defensor da família tradicional, reafirmada pela ampla maioria de direita eleita no ano passado para o Congresso.

"Toda vez que a minha filha passa pela porta, fico insegura, tenho medo que digam que ela é uma aberração, que a agridam ou excluam. E fico muito grata toda vez que ela volta porque sei que isso é um privilégio", diz a mãe, com a voz embargada.

Transformada em ativista dos direitos de crianças e adolescentes trans, ela fundou em 2022 a ONG Minha Criança Trans, que tem quase 600 membros.

"É um absurdo o Estado não ter nenhum mecanismo de proteção para nossos filhos e tantas crianças e adolescentes trans que estão na nossa sociedade, sendo violados, vitimizados. Nosso maior interesse é ter políticas públicas porque hoje uma criança ou adolescente trans no Brasil tem que contar com a sorte", diz.

Para Aline Melo, membro da organização, o Brasil "viveu um período de muito retrocesso nos últimos anos".

"Meu filho, Luiz Guilherme, um adolescente trans de 14 anos, tem orgulho de ser quem é, mas sabe que da porta pra fora nem sempre pode" se expor livremente, lamenta.

- Uma nova identidade –

Celeste Armbrust lembra ter chegado ao salão com a cabeça coberta e o olhar baixo. Depois do trabalho do cabeleireiro, recorda que seus olhos se iluminaram ao ver no espelho os cabelos castanhos com mechas vermelhas.

"Finalmente me senti como eu mesma, livre de fato", conta à AFP a jovem transgênero de 17 anos em seu quarto, onde carrinhos e acessórios femininos convivem lado a lado.

Celeste iniciou a terapia hormonal aos 16 anos, idade autorizada por uma norma do Conselho Federal de Medicina em 2020 e revelou sua nova identidade na escola, motivando outros a fazerem o mesmo.

Mas, admite que lhe falta essa "coragem" para sair desacompanhada.

"Ela evita estar sozinha por medo de ser apontada e sofrer alguma coisa", diz a mãe dela, Claudia Armbrust.

- Expulsos de casa -

No Brasil, com 214 milhões de habitantes, há apenas cinco centros públicos de atendimento a crianças e adolescentes para questões de identidade e gênero.

O do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo acompanha quase 400, cerca de uma centena entre os 4 e os 12 anos, e tem uma longa fila de espera.

Em casos de "incongruência de gênero", as crianças são acompanhadas em sua "transição social"; aqueles na puberdade podem "bloquear" o processo, ou seja, frear as mudanças como a menstruação nas meninas e a penugem facial nos meninos; e alguns maiores de 16 anos recebem tratamentos hormonais.

Agatha e Luiz Guilherme frequentam o centro na capital paulista, como Celeste fez no passado.

Ali, "sentem-se compreendidos e acompanhados nessa descoberta", explica Larissa Todorov, psicóloga no ambulatório paulistano.

Mas poucos têm acesso a esta assistência, que conta com poucos recursos.

Carolina Iara, de 30 anos, deputada estadual intersexo em São Paulo (PSOL-SP), destaca, apesar de tudo, alguns avanços em relação à sua geração.

No entanto, "a gente ainda tem essa dificuldade do básico. Esses adolescentes trans, principalmente essas adolescentes trans e travestis, são expulsas de casa com 13 ou 14 anos e vão parar na prostituição", adverte.

S.Danek--TPP