

Chefe da ONU pede que setor de IA lidere transição energética
O secretário-geral das Nações Unidas pediu, nesta terça-feira (22), que a indústria tecnológica impulsionadora da inteligência artificial (IA) lidere a transição para energias renováveis na luta contra o aquecimento global.
"Nada pode deter a transição energética", afirmou António Guterres durante um discurso no qual atacou mais uma vez o setor de combustíveis fósseis, cujos esforços para evitar esta revolução, disse, estão "fadados ao fracasso".
E, nessa transição, "o setor tecnológico deve liderar", enfatizou. "A IA pode aumentar a eficiência, a inovação e a resiliência nos sistemas energéticos, e devemos aproveitá-la".
Mas um típico centro de dados de IA, onde as informações são processadas, utiliza tanta eletricidade quanto 100 mil residências comuns, advertiu.
Prevê-se que este consumo aumente ainda mais. Segundo um relatório da equipe climática do secretário-geral, publicado junto ao seu discurso, os centros de dados, alimentados principalmente por gás e energias renováveis, consumiram cerca de 1,5% da eletricidade mundial (415 TWh) em 2024.
No entanto, estima-se que este número mais que dobre até 2030, alcançando cerca de 945 TWh, equivalente ao consumo anual de eletricidade do Japão atualmente.
"Esta situação é insustentável e está em nossas mãos resolvê-la", insistiu Guterres. "Hoje, faço um apelo a cada grande empresa de tecnologia para que forneça energia 100% renovável a todos os centros de dados até 2030".
- "Sensatez econômica" -
Ao defender as energias renováveis, o secretário-geral da ONU destacou não apenas a sua importância para o clima, mas também a "sensatez econômica" da sua implementação.
Um relatório da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, na sigla em inglês), também publicado nesta ocasião, mostra que as energias renováveis são a opção mais competitiva em termos de custos.
Em 2024, mais de 90% das novas instalações industriais renováveis forneciam eletricidade "mais barata do que as alternativas mais econômicas baseadas em combustíveis fósseis", indica.
No entanto, embora as energias renováveis, lideradas pela energia fotovoltaica, tenham experimentado um crescimento recorde em 2024, com 582 gigawatts instalados, o desenvolvimento de infraestrutura e as conexões à rede "não acompanham o mesmo ritmo", apontou Guterres.
"A matriz energética global continua dominada pelos combustíveis fósseis", os principais responsáveis pelas mudanças climáticas, sublinhou.
A transição energética "ainda não é suficientemente rápida nem equitativa. Os países da OCDE e a China representam 80% da capacidade mundial de produção de energia renovável instalada. Brasil e Índia, quase 10%. África, apenas 1,5%", explicou.
- "Uma quimera" -
Guterres chamou os governos a transformarem seus novos compromissos climáticos, que devem ser apresentados antes da COP30 no Brasil, em novembro, no motor de uma transição energética irreversível.
Isso implica dobrar a eficiência energética, triplicar a capacidade de energia renovável até 2030 e eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.
"Com muita frequência, os governos enviam mensagens contraditórias: em um dia, objetivos ambiciosos relacionados a energias renováveis; no seguinte, novos subsídios aos combustíveis fósseis e medidas que promovem sua expansão", lamentou o chefe da ONU.
De maneira mais geral, os novos planos devem ser ambiciosos o suficiente para não superar o limite de aquecimento de 1,5° C em relação à era pré-industrial, o objetivo ideal do Acordo de Paris.
Mas esse limite "está se tornando, mais do que nunca, uma quimera", alertou Guterres.
Segundo a ONU, 2024 foi o ano mais quente já registrado, culminando em uma "década extraordinária de temperaturas recordes".
W.Urban--TPP