

'Como renascer', palestinos reencontram familiares após deixarem prisões israelenses
Os prisioneiros palestinos libertados por Israel, nesta segunda-feira (13), em virtude do cessar-fogo em Gaza, se sentiram tomados de alegria ao reencontrarem seus entes queridos, em meio a uma multidão que lhes deu as boas-vindas na Cisjordânia.
Alguns fizeram o V da vitória com as mãos, enquanto outros mal conseguiam caminhar sem ajuda. Todos foram recebidos por uma multidão tão numerosa que tiveram dificuldade em descer do ônibus que os trouxe dos presídios israelenses até a cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada.
Vários ônibus com prisioneiros também chegaram à cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em meio a vivas, informou um jornalista da AFP.
"É um sentimento indescritível, é como renascer", declarou, em Ramallah, um dos libertos, Mahdi Ramadan, acompanhado dos pais, com os quais disse que passaria sua primeira noite fora da prisão.
A alguns metros dali, familiares se abraçavam, jovens choravam e apoiavam a testa uns nos outros. Alguns chegaram a desmaiar de emoção por voltar a ver seus entes queridos após anos, em alguns casos décadas, presos.
Em sinal de celebração, a multidão também repetia, em coro, "Allahu akbar" (Deus é o maior, em árabe).
Entre os palestinos que soltos em virtude do acordo da trégua negociada pelos Estados Unidos estão 250 detidos por motivos de segurança, entre eles condenados por matar israelenses, assim como cerca de 1.700 palestinos detidos pelo exército israelense em Gaza.
Israel concordou em libertá-los em troca da entrega dos reféns que seguem vivos na Faixa de Gaza, no marco da primeira fase do plano do presidente americano, Donald Trump, para pôr fim à guerra.
O conflito em Gaza eclodiu após o ataque do Hamas, em 7 de outubro de 2023, que causou a morte de 1.219 pessoas em Israel, civis na maioria, segundo um balanço da AFP com base em números oficiais israelenses.
Em Gaza, o ministério da Saúde controlado pelo governo do Hamas anunciou, nesta segunda, um balanço de 67.869 mortos na ofensiva lançada por Israel no território em retaliação ao ataque de outubro de 2023.
- "Nunca vi meu pai" -
Para Nur Sufan, de 27 anos, a libertação não significa apenas voltar a ver um familiar. Significa se reunir pela primeira vez fora da prisão com seu pai, Musa, que foi preso meses após seu nascimento.
"Nunca vi meu pai (...) É um momento muito bonito", disse Sufan.
Assim como ele, muitos vieram de todas as partes da Cisjordânia, apesar das restrições às viagens no território palestino.
Meios de comunicação palestinos reportaram no domingo que as autoridades israelenses tinham entrado em contato com familiares dos presos para pedir que não organizassem comemorações multitudinárias pela libertação.
"Não são permitidas recepções, nem comemorações, nem reuniões", disse Alaa Bani Odeh, que veio de Tammun, no norte da Cisjordânia, para buscar seu filho de 20 anos, preso há quatro.
A AFP falou com vários presos que descreveram os mesmos planos para suas primeiras horas fora da prisão: ir para casa e ficar com a família.
Em libertações anteriores, concentrações maciças lotaram as ruas de Ramallah, com pessoas agitando bandeiras palestinas e de facções políticas, inclusive o Hamas.
Nesta segunda, muitos presos usavam a kufiya, tradicional lenço palestino, enrolado no pescoço, que às vezes usam como símbolo de lealdade aos membros do movimento Fatah, do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
"Os prisioneiros vivem da esperança (...) Voltar para casa, para nossa terra, vale todo o ouro do mundo", disse um dos presos libertados, Samer al Halabiyeh.
"Se Deus quiser, a paz vai prevalecer e a guerra em Gaza vai terminar", acrescentou. "Agora, só quero viver a minha vida", ressaltou.
K.Pokorny--TPP