

Israel prevê 'campanha prolongada' contra o Irã
Israel disse nesta sexta-feira (20) que prevê uma "campanha prolongada" de bombardeios no Irã, cujo chanceler se encontrou com seus homólogos das potências europeias em Genebra para tentar buscar uma saída diplomática para a guerra, à qual o governo dos Estados Unidos cogita se juntar.
Israel, potência atômica não oficial, iniciou em 13 de junho uma campanha de ataques aéreos contra o Irã alegando que Teerã estava prestes a conseguir uma arma nuclear. Os iranianos responderam com lançamentos de mísseis e drones.
O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou que o último relatório de sua agência não contém nenhuma indicação de que o Irã esteja atualmente desenvolvendo uma arma atômica.
"Estamos lançando a campanha mais complexa da nossa história [...] Devemos nos preparar para uma campanha prolongada", disse o chefe do Estado-Maior do Exército israelense, tenente-general Eyal Zamir.
"Apesar do progresso significativo, dias difíceis nos aguardam. Estamos nos preparando para muitas eventualidades", acrescentou.
As hostilidades deixaram até agora pelo menos 224 mortos no Irã e 25 em Israel, que também matou vários comandantes militares e cientistas iranianos, além de ter provocado vários danos em sua infraestrutura nuclear.
No oitavo dia de guerra, as sirenes de alerta foram acionadas nesta sexta-feira no sul de Israel após novos disparos de mísseis iranianos. No norte, o Hospital Rambam de Haifa relatou ter atendido 19 feridos, um deles em estado grave.
O Exército israelense também bombardeou lançadores de mísseis no sudoeste do Irã. Ataques também foram relatados em Teerã, a capital.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na quinta-feira, por meio da porta-voz da Casa Branca, que decidirá "nas próximas duas semanas" se envolverá o país na ofensiva israelense.
Somente os Estados Unidos possuem a bomba GBU-57, a única, em tese, com capacidade de atingir o núcleo do programa nuclear iraniano, localizado a grande profundidade em Fordo, ao sul de Teerã.
- Parar a "agressão" israelense -
Em meio à troca de ataques diários entre os dois países, os ministros das Relações Exteriores da Alemanha, França e Reino Unido instaram o Irã nesta sexta-feira a "continuar as negociações com os Estados Unidos" sobre seu programa nuclear.
O apelo foi feito durante uma reunião em Genebra com o chanceler iraniano, Abbas Aragchi, que também contou com a participação da chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas.
O chanceler iraniano classificou a ofensiva israelense como uma "traição" ao processo diplomático.
"Fomos atacados no meio de um processo diplomático. Deveríamos nos reunir com os americanos em 15 de junho para elaborar um acordo muito promissor", disse ele pouco antes de entrar na reunião.
Teerã está disposta a "considerar" a diplomacia "assim que a agressão israelense parar", disse Araqchi.
O Conselho de Segurança da ONU também se reunirá nesta sexta-feira, em uma sessão solicitada pelo Irã com o apoio da Rússia, China e Paquistão.
Sobre a eventual participação dos Estados Unidos, Araghchi reiterou em uma entrevista exibida nesta sexta-feira que não negociará com Washington enquanto Israel prosseguir com os ataques contra o país.
Alemanha, França e Reino Unido assinaram, em 2015, com Estados Unidos, China e Rússia, um acordo com o Irã para garantir a natureza civil de seu programa atômico, em troca da suspensão progressiva de sanções econômicas.
Em seu primeiro mandato, Trump retirou Washington do acordo e Teerã deixou de cumprir o compromisso de limitar o enriquecimento de urânio a 3,67%.
Atualmente, o Irã enriquece urânio a 60%, enquanto são necessários 90% para desenvolver uma arma nuclear, e garante que a medida tem apenas fins civis.
- "Toda ajuda é bem-vinda" -
Nas últimas semanas, negociadores americanos e iranianos participaram de várias rodadas de conversações para um novo acordo, interrompidas pelo ataque israelense.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que, se houver uma oportunidade para a diplomacia, Trump a aproveitará. Mas destacou que o Irã tem "tudo o que precisa para conseguir uma arma nuclear em duas semanas".
Apesar da ambiguidade de Israel sobre seu arsenal, o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo calcula que o país possui 90 ogivas nucleares.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que, embora Israel seja "capaz de atingir todas as instalações nucleares do Irã, toda ajuda é bem-vinda".
O líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, advertiu que uma intervenção de Washington provocaria "danos irreparáveis".
Apesar dos apelos para reduzir a tensão, as hostilidades continuaram nesta sexta-feira: as sirenes antiaéreas foram acionadas em vários pontos de Israel por mísseis lançados do Irã.
A campanha israelense provocou pânico no Irã, com escassez de alimentos e acesso limitado à internet, segundo os depoimentos de pessoas que fugiram dos ataques.
O Reino Unido e outros países, incluindo a Suíça, que representa os interesses dos EUA no Irã, anunciaram nesta sexta-feira que retiraram sua equipe diplomática do Irã.
"Estes dias e noites foram aterrorizantes (...) As sirenes, os lamentos, o perigo de ser atingido por mísseis", disse à AFP Mohamad Hasan, estudante da Universidade de Teerã, ao retornar a seu país, o Paquistão.
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