

Ucrânia pede apoio 'constante' após anúncio dos EUA de suspensão do envio de algumas armas
A Ucrânia pediu nesta quarta-feira (2) apoio "constante" para pôr fim à guerra com a Rússia, depois que os Estados Unidos anunciaram que suspenderiam o envio de algumas armas a Kiev, em plena intensificação dos bombardeios de Moscou.
Os Estados Unidos anunciaram na terça-feira a suspensão do envio de certos armamentos a Kiev, alegando preocupação com a redução de sua própria reserva de munições.
"Essa decisão foi tomada para priorizar os interesses dos Estados Unidos", justificou Anna Kelly, uma porta-voz adjunta da Casa Branca.
Washington é o principal apoiador militar (e financeiro) da Ucrânia desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022. Suas armas, munições e equipamentos - além de suas informações de inteligência - permitiram às forças ucranianas conter o exército russo, que, no entanto, continua ocupando quase 20% do território ucraniano.
O anúncio ocorreu em um momento crítico, já que a Rússia realiza uma das maiores ofensivas no território ucraniano em mais de três anos de conflito.
Embora Kiev tenha negado nesta quarta-feira que havia recebido uma "notificação oficial" por parte dos Estados Unidos sobre essa medida, insistiu que seu aliado essencial deveria manter um apoio "constante" para acabar com o conflito.
"A forma de acabar com a guerra passa por uma pressão constante e conjunta sobre o agressor, bem como por um apoio inabalável à Ucrânia", afirmou o Ministério da Defesa ucraniano em um comunicado.
- "Esclarecer a situação"
Ao mesmo tempo, a Ucrânia convocou um diplomata americano, o encarregado de negócios John Ginkel.
"A parte ucraniana destacou que qualquer atraso no apoio às capacidades de defesa da Ucrânia apenas encorajará o agressor a continuar com a guerra e o terror, ao invés de buscar a paz", indicou a chancelaria ucraniana.
Kiev também entrou em contato com Washington para tentar "esclarecer a situação" e concretizar o que exatamente significa a posição da Casa Branca, segundo o assessor presidencial Dmitro Litvin.
De acordo com Politico e outros meios de comunicação americanos, a medida diz respeito aos sistemas de defesa aérea Patriot, à artilharia de precisão e aos mísseis Hellfire.
Nas últimas semanas, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu aos Estados Unidos que vendessem sistemas Patriot para enfrentar os ataques diários de mísseis e drones russos.
O líder ucraniano voltou a levantar essa questão ao seu contraparte americano, Donald Trump, durante seu último encontro à margem da cúpula da Otan no final de junho.
Mas o magnata republicano mostrou-se evasivo e afirmou que seu país "também precisa" deles.
- "Será difícil para nós" -
A notícia foi recebida com decepção em Kiev e certa apreensão sobre as capacidades do Exército ucraniano em continuar resistindo à investida russa.
"Atualmente, dependemos muito das entregas de armas americanas, por mais que a Europa faça tudo o que pode. Mas será difícil para nós sem as munições americanas", reconheceu uma fonte militar em declaração à AFP.
Por outro lado, o Kremlin acolheu favoravelmente o anúncio e assegurou que isso ajudará a terminar mais cedo o conflito em curso.
"Quanto menos armas forem enviadas à Ucrânia, mais próximo estará o fim da operação militar especial", disse à imprensa o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, usando a fórmula habitual em Moscou para se referir à ofensiva no país vizinho.
Para Shashank Joshi, especialista do Instituto RUSI de Londres, a decisão americana torna "cada vez menos provável que a Rússia se incomode em negociar seriamente".
Um relatório publicado em maio pelo centro de reflexão CSIS (Center for Strategic and International Studies) alertou sobre a "capacidade" da Ucrânia, "a longo prazo", de lutar contra a Rússia se a ajuda americana acabar, um apoio que os europeus "não podem substituir".
T.Kolar--TPP