França homenageia vítimas de atentados jihadistas de Paris 10 anos depois
A França homenageou nesta quinta-feira (13) as 132 vítimas dos atentados perpetrados por jihadistas em terraços, bares e em uma casa de shows em Paris, em meio a promessas de fazer "tudo" para impedir novos ataques.
Esses atentados, reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI), foram os mais sangrentos da década de 2010 na Europa, um período marcado por ataques jihadistas em vários países.
"Ninguém pode garantir, infelizmente, o fim dos atentados, mas podemos garantir que, para aqueles que pegarem em armas contra a França, a resposta será implacável", declarou o presidente Emmanuel Macron, que prometeu fazer "tudo" para impedi-los.
Para marcar os dez anos dessa tragédia que comoveu o mundo, Macron e a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, percorreram os locais dos ataques e inauguraram o Jardim da Memória, no centro da capital, durante uma cerimônia emocionante ao som de rock.
"Este será um lugar onde todas as vítimas que perderam a vida serão identificadas, onde os sobreviventes se encontrarão e onde a vida estará presente", explicou Philippe Duperron, da associação de vítimas 13onze15.
Os "heróis" desconhecidos dos atentados — policiais, psicólogos, enfermeiras, funcionários de limpeza... — leram os nomes das 132 vítimas: as 130 assassinadas naquela noite e duas sobreviventes que não superaram o trauma e acabaram tirando a própria vida mais tarde.
Os sinos das igrejas de Paris, com destaque para a Catedral de Notre-Dame, repicaram, e um símbolo da paz foi iluminado ao redor da Torre Eiffel.
— "Nossa democracia foi o alvo" —
Os ataques começaram nos arredores do Stade de France, ao norte de Paris, onde a seleção francesa disputava uma partida contra a Alemanha na presença do então presidente francês François Hollande. Uma pessoa perdeu a vida: Manuel Dias.
"Meu pai amava a vida", lembrou emocionada nesta quinta-feira sua filha Sophie Dias. "Nos dizem para virar a página dez anos depois, mas a ausência é imensa, o impacto segue intacto e a incompreensão ainda reina", acrescentou.
Naquela noite, Hollande fez um discurso na televisão sobre o "horror" vivido pelo país. Dias depois, declarou que a França estava "em guerra" contra os jihadistas e seu autoproclamado califado, que então se estendia entre a Síria e o Iraque.
Os agressores assassinaram em seguida cerca de 90 pessoas na casa de shows Bataclan, onde se apresentava a banda Eagles of Death Metal, e dezenas mais em restaurantes e cafés da capital francesa.
Nove terroristas morreram, baleados pela polícia ou ao acionarem os explosivos presos aos corpos, com exceção de Salah Abdeslam, que fugiu e foi preso meses depois na Bélgica. Atualmente, ele cumpre prisão perpétua em uma penitenciária francesa de segurança máxima.
"Eles escolheram atacar o que mais odiavam: nossa liberdade, nossa alegria de viver, o espírito festivo, que é a alma de nossa cidade", resumiu Anne Hidalgo. "Naquela noite, nossa democracia foi o alvo", acrescentou.
— "Ferida aberta" —
As forças apoiadas pelos Estados Unidos derrotaram, em 2019, no leste da Síria, os últimos vestígios do autoproclamado califado do Estado Islâmico, que havia atraído cidadãos franceses e inspirado os ataques de Paris.
E embora a França tenha feito "todo o possível para conter" o jihadismo dos "terroristas" que muitas vezes passaram pela Síria, agora ele "renasce sob outra forma, interna, insidiosa, menos detectável, menos previsível", advertiu o presidente francês.
A ameaça mudou desde 2015. Segundo o promotor antiterrorismo Olivier Christen, a tendência na França passou de ataques coordenados a partir de zonas jihadistas para uma ameaça vinda de pessoas cada vez mais jovens, inclusive menores de idade, que já vivem no país.
Os menores "são principalmente meninos, muitos com perfis isolados, frequentemente em situação de fracasso escolar", explicou Christen à AFP, detalhando que "passam muito tempo nas redes sociais", onde os "algoritmos" os conduzem a conteúdos de "ultraviolência".
Em Paris, os sobreviventes e familiares das vítimas tentam reconstruir suas vidas e, neste décimo aniversário, quiseram afirmar que "os terroristas não venceram naquela noite", segundo Arthur Dénouveaux, presidente da associação Life for Paris.
"Hoje posso lembrar, posso chorar, posso me deixar levar, mas amanhã, a vida continua", disse Sophie Bouchard-Stech, que perdeu o marido no Bataclan.
Muitos parisienses também foram até a Praça da República, onde, como em 2015, depositaram flores, velas e mensagens de apoio. Para um deles, Antoine Grignon, "dez anos depois, a ferida continua aberta".
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L.Hajek--TPP